Foto: Gabriel Haesbaert (Diário)
Na intenção de agregar forças e manter a parceria em pesquisas, a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) assumiu 80% da administração do Centro Regional Sul de Pesquisas Espaciais (CRS) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) em abril do ano passado. Assim, a maior parte do prédio, localizado no campus de Santa Maria, passou a ser de responsabilidade pela universidade. Essas mudanças estancaram a crise que ameaçava as pesquisas e evitaram a saída de professores, que começavam a ir embora por falta de condições para trabalhar. O Observatório Espacial do Sul (OES), localizado em São Martinho da Serra, também compete, em parte, à UFSM (confira abaixo).
Até a assinatura do convênio, em abril de 2018, a situação do CRS ia de mal a pior, com problemas de infraestrutura, falta de recursos e perda de profissionais da área da pesquisa por conta da falta de condições. Toda essa situação foi causada pelos cortes sucessivos no orçamento do Inpe pelo Ministério da Ciência e Tecnologia. De 2012 até 2016, a redução na unidade de Santa Maria atingiu 60% dos recursos. Já em 2017, o CRS sofreu mais um corte de 44% em seu orçamento, quase inviabilizando seu grande patrimônio científico: as pesquisas. Esses projetos têm reflexos para a população, com estudos que servem de subsídios para a agropecuária e que investigam interferências nos sinais de internet, rádio e GPS, por exemplo.
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COMO COMEÇOU
Fundada em 1996, a sede do Inpe em Santa Maria foi construída em um terreno cedido pela UFSM, dentro do campus. Assim, o órgão funcionava de forma autônoma da universidade, apesar de abrigar alunos bolsistas e pesquisadores também. O ex-chefe do CRS, Ronald Buss, explica que o convênio apenas regulamentou o que já acontecia.
- O prédio sempre foi utilizado por pesquisadores da UFSM que tivessem pesquisas próximas ao Inpe. Porém, havia um conflito que era o número de pessoas que utilizava o local e gastava recursos do instituto. O convênio veio para que a gente conseguisse colocar mãos limpas nesse problema - relembra Ronald, que afirma ter havido até mesmo problemas com o Ministério Público em relação ao uso das dependências.
O CRS hoje conta com nove servidores, sendo cinco professores que lideram grupos de pesquisa. A atual chefe do CRS, Tatiana Kuplich, afirma que a convênio foi positivo.
- Acho que foi bom, porque otimizou as pesquisas e as instituição se uniram - avalia ela.
Até o ano passado, o Inpe não tinha recursos sequer para manutenção da sede de Santa Maria. Agora, os trabalhos de limpeza, por exemplo, estão a cargo da universidade, que disponibilizou três funcionários para a parte da manhã e dois para a tarde durante um período de adaptação. Entretanto, o Pró-Reitor de Administração da UFSM, José Segalla, diz que o local deve entrar na lista dos prédios definitivos do campus a partir deste ano.
- Agora em março, entrou um novo contrato de serviço de limpeza. Antes, era um trabalho reduzido, agora, o Inpe também vai fazer parte do custo - diz ele.
Antes do convênio, muitos projetos estavam ameaçados de saírem do CRS por conta da falta de recursos. A atual chefe afirma que esse risco não existe mais, mas que ainda falta interesse de novos pesquisadores.
- Ninguém saiu, mas a situação não mudou. Outro problema que persiste é a ausência de concursos. Assim, os estudantes que atuam no local acabam indo a outras instituições ou empresas da iniciativa privada - diz ela.
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ESPAÇO AOS CENTROS
O Centro de Tecnologia (CT) e o Centro de Ciências Naturais e Exatas (CCNE) da UFSM têm utilizado o CRS para estimular parcerias em estudos. O CT, por exemplo, possui dois laboratórios para os projetos de cursos de engenharia. Já o CCNE promove trabalhos de professores do Departamento de Física, sobretudo do curso de Meteorologia.
Nem Inpe, nem UFSM confirmaram o orçamento para 2019, que deve ser definido no próximo mês. Contudo, com custos menores, o CRS hoje consegue, ao menos, autossustentar-se e ainda seguir administrando o observatório de São Martinho, importante para o funcionamento do instituto.
- Não foi uma negociação fácil, mas agradou todo mundo - avalia o ex-diretor Ronald, que participou de todo o processo de acordo e assinatura do convênio e, agora, vai trabalhar na sede do Inpe, em São Paulo.
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O CRS HOJE
Em 2017, o Centro Regional Sul de Pesquisas Espaciais vivia um situação precária pelos cortes no seu orçamento e suas pesquisas estavam ameaçadas. Em 2018, a UFSM assinou convênio com Inpe para assumir grande parte das despesas do CRS, passando a ocupar mais espaço com seus alunos. Confira como está o funcionamento hoje:
- 80% dos custos são bancados pela UFSM e 20%, pelo Inpe
- 5 pesquisadores
- 10 projetos em andamento
- Centro de Tecnologia (CT) e Centro de Ciências Naturais e Exatas (CCNE) da UFSM atuam no prédio
- Utilizado principalmente pelos cursos de Engenharia Aeroespacial, Engenharia de Telecomunicações, Meteorologia e Física
- Dos 5 carros do Inpe, 3 estão funcionando, há combustível e verbas mínimas para manutenção
- Os telefones e ramais foram restabelecidos, assim como a internet, com verbas do Inpe. Para a manutenção da rede, dependendo do caso, há o auxílio do Centro de Processamento de Dados (CPD) da UFSM
- O CRS conta com 9 servidores concursados, um motorista terceirizado e uma estagiária
- Os pesquisadores contam com aproximadamente 16 bolsistas de pesquisa e de pós-graduação
- Ainda não há orçamento do Inpe para 2019, mas haverá congelamento de verbas
- O orçamento da UFSM deve ser definido até o início de abril, mas o prédio está incluído na verba de custeio da universidade
RESPONSABILIDADES
Do Inpe
- Serviços de vigilância e portaria do prédio
- Manutenção elétrica e hidráulica do observatório
- Energia elétrica do observatório
- Vigilância do observatório
- Paisagismo, limpeza e conservação das áreas verdes e pavimentadas do observatório
Da UFSM
- Manutenção elétrica e hidráulica do CRS
- Limpeza interna e das vidraças do CRS e observatório
- Paisagismo, limpeza e conservação das áreas verdes e pavimentadas do CRS
- Energia elétrica do CRS e observatório
- Serviços de telefonia e internet do CRS e observatório